terça-feira, 31 de julho de 2012

O Mito da Bala de Prata

Não é raro, quando estamos conversando sobre gestão, tecnologia e  afins que alguém cite alguma coisa que leu de um livro desses sobre gestão com uma certa cara de auto ajuda. Não que eu tenha algo contra as pessoas lerem sobre o tema em que trabalham, ao contrário, considero isso fundamental. Mas, algumas pessoas compram a idéia  vendida por alguns livros como uma bala de prata que vai garantir o seu sucesso.

Se existe algo que não é garantido é o sucesso. Não existe formula garantida para se chegar ao topo e mesmo que houvesse ela certamente não estaria num livro, ainda mais um vendido para um milhão de pessoas pelo mais óbvio dos motivos: um milhão de pessoas não podem estar no topo ao mesmo tempo.

Talvez, caso algo no livro realmente o livro seja realmente revolucionário, conhecer isso não vai garantir o seu sucesso, não conhecer é que talvez, garanta o seu fracasso. Tal qual a evolução dos carros de corrida de Formula 1 toda grande sacada que fez com que alguma bandeira conseguisse ficar na frente por algumas corridas vai naturalmente sendo descoberta e copiada pelas demais. Até o momento que aquele elemento deixou de ser um diferencial ele se tornou essencial. Algum tempo depois acabou se tornando ultrapassado.

Muitos dos livros tentam vender essa idéia absurda de que existe o caminho garantido para o sucesso seguindo os 10 passos do empreendedor, compreendendo os 21 segredos do Steve Jobs, falando as 10 palavras developers do Steve Ballmer, ou mantendo o mesmo 1 olhar como Steve Seagal. Então, para tentar entrar na onda, eu vou listar as 5 más notícias irrefutáveis de Thiago Mata:

  • Você sempre tem empresas concorrentes. Se você não conseguiu ainda descobrir, tenho um segredinho fácil: Veja com o que seus clientes (potenciais ou reais) estão gastando o dinheiro.
  • Seus concorrentes aprendem. O seu diferencial se tornará menos diferencial com o passar do tempo. Para se manter na corrida você precisará estar conseguindo se destacar novamente, sempre. Os seus concorrentes vão notar o mercado que você tomou deles e vão fazer o possível para compreender qual é o seu diferencial, incorpora-lo e aperfeiçoa-lo.
  • Seus clientes mudam. O que seu cliente gosta hoje pode não gostar amanha. O que é suficiente para ele hoje não será amanha. Se seus produtos não se adaptarem vão se tornar uma lembrança do passado. As necessidades mudam, a economia muda, tudo muda e nada é garantido.
  • Não existe "pé de dinheiro". Não existe um investimento, um truque, um método qualquer que gere retorno garantido por período indeterminado. Seja investindo em imóveis, comprando ações, ouro, títulos do tesouro, capital de risco, etc. todo o poço tem seu fundo. Todo investimento tem seu risco e sim tudo pode dar errado mesmo que você tenha seguido a risca a cartilha.
  • A idéia que pode mudar o seu mundo, ainda está por vir. Quando lemos a sacada genial que fez com que uma empresa se tornasse um referencial de sucesso, essa sacada já era. Ela já caiu no popular e não é mais um diferencial. Para a sua empresa conseguir se tornar o próximo referencial de sucesso cabe a você ter a próxima grande sacada. Caso bem sucedido, os livros vão estar falando sobre a sua sacada no futuro. Claro que estudar os sucessos e fracassos do passado podem te auxiliar, mas a responsabilidade de ter essa sacada é somente sua, não vai estar escrita em nenhum livro - ou blog.
Então, assim que você terminar de ler aquele livro que te garante que é bem fácil criar a empresa mais bem sucedida do mundo, repita esses itens até voltar a realidade. Lembre-se de que todos esses grandes sucessos e fracassos do passado preparam o mundo para você e agora é a sua vez de jogar. Boa sorte!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Gambiarra é Empréstimo de Produtividade.


Recentemente, enquanto conversava com meu amigo Raphael sobre "soluções de caráter paliativos e temporário mas que serão utilizadas por período indeterminado", mais conhecidas como gambiarras, e como o mal uso dessas pode se acabar com um projeto, surgiu um comparativo que acredito que pode ajudar muito pessoas que não são desenvolvedoras mas que, por algum motivo, interagem com a área de desenvolvimento. Pronto? lá vai...

Gambiarra é Empréstimo de Produtividade.

Imagina que você quer comprar um carro novo mas não tem dinheiro o suficiente para comprar um agora. Você tem duas opções:

  • Espera alguns meses e com um pouco do salário vai fazendo uma poupança para comprar;
  • Pega um empréstimo, começa a usufruir do carro hoje, mas vai ter que ficar pagando nos próximos meses.


Na primeira opção você precisa esperar um bom tempo, até que o total de dinheiro acumulado seja suficiente para a compra. Não há dívidas e o carro quando entregue é 100% seu. Em compensação você teve de esperar muito tempo para ter o seu carro e não é raro, que você precise do carro com urgência.

Na segunda opção, você conseguiu resolver o problema da urgência. O carro que você precisava foi entregue e você pode usufruir deste enquanto pagava mas isso não foi de graça. O empréstimo tem juros o que vai fazer com que, muitas vezes, você acaba pagando dois carros para ter um.

Empréstimos são parte da nossa vida. Mas, repetindo o que todo economista está cansado de dizer é preciso saber usar. Se ao fazer um empréstimo você não faz um planejamento de pagamento deste, o dinheiro do mês que vem não será suficiente para as suas necessidades diárias e então você vai ter de pegar outro empréstimo, ou se preferir entrar no cheque especial de novo. Esse ciclo de dívidas apenas vai reduzindo a quantidade de dinheiro que, de fato, você terá disponível durante o mês.

Assim também gambiarras são parte do desenvolvimento. Um time de desenvolvimento tem uma capacidade praticamente fixa, similar a um salário de uma pessoa. Mas, bem sabemos que não vivemos no mito do mundo sem prazos ou sem expectativas onde se pode levar um prazo infinito para se desenvolver. Então vai aqui a primeira lei de Thiago Mata - até que alguém prove que já disse isso antes: 

"Quando se demanda, de um time, uma produtividade acima da sua capacidade, alguém vai fazer uma gambiarra".

A gambiarra dá a impressão que seu time conseguiu produzir acima da capacidade assim como, o empréstimo, dá a impressão de que você conseguiu, em um mês, ganhar acima do seu salário e logo está mais rico. Mas isso, é uma ilusão. Você na verdade está mais pobre.

Manter uma gambiarra num projeto é manter uma dívida rolando sem pagar. Quanto mais tempo levar, mais complexo será alguém saber resolver, alguém entender como deveria ter sido feito e corrigir. Assim, quanto mais tempo levar, menos o seu time terá disponível para produzir outras coisas. Não resolver a gambiarra é como ignorar a prestação do cartão de crédito, ela não só não se resolve como piora a cada dia.

Existem dívidas tão grandes que são acima do seu salário mensal. Eu mesmo já precisei de uma assim. O que você faz para não perder o controle? Você cria um plano de pagamento. Todo mês, de alguma forma, seja carne ou débito em conta ou boleto, você reduz a sua dívida progressivamente, até quita-la totalmente.

Para sistemas com muitas gambiarras, é preciso fazer algo similar. Deve-se fazer um plano de melhoria do software, para que sua equipe, utilize um pouco da sua capacidade produtiva para resolver as gambiarras do passado, no lugar de produzir novas funcionalidades. Mas a equipe vai produzir menos? É claro! O empréstimo foi feito e agora está sendo pago, e com juros.

Todos nós temos um limite de crédito. Mesmo que eu queira pegar um dívida milionária, o banco não vai aceitar, porque ele sabe que eu não tenho como pagar. Assim, é preciso muitas vezes que uma equipe de desenvolvimento saiba o seu limite máximo de gambiarras o que, seguindo a analogia da lógica monetária, deve ser proporcional a sua capacidade produtiva.

Eu já convivi com projetos que, a cada dia, tinham uma capacidade produtiva menor. Para tentar reduzir esse problema, as empresas, aumentavam o tamanho do time. Mas, utilizaram de gambiarras para resolver gambiarras, que é como pegar empréstimo para quitar empréstimo, no juro sobre juro. Até chegar ao ponto que, mudar a cor de um botão, precisava de duas semana com tantos desenvolvedores. Projetos assim "faliram" ou estão a beira da "falência".  Uma empresa fali quando todo o seu patrimônio não é suficiente para pagar suas dívidas. Segundo Thiago Mata, até que alguém prove o contrário:
"Um projeto fali quando gerar um conjunto de novas funcionalidades neste demora, quase tanto ou mais do que fazer um novo com elas" 

É importante dizer que, essas coisas acontecem, não por falta de esforço ou capacidade produtiva das equipes, mas  falta de gestão estratégica de quem gerenciava esse pessoal.

Então, mantendo a dica mais fundamental de economia, procure não fazer empréstimos e gambiarras, planejando bem seus gastos e entregas. Caso não seja possível, procure fazer o uso com moderação, já fazendo um plano de abatimento destas, parcelado ou não. Deste modo você não tornará o seu time, a próxima Grécia da TI.

Ps - É importante ressaltar que estou chamando de gambiarra aqui, soluções que não são as mais rápidas ou mais recomendadas mas que geram um produto que apresenta os resultados esperados, sejam lógicos ou matemáticos. Entregar intencionalmente um produto que informa dados inválidos, que só parece que funciona, não é apenas uma gambiarra, é trapaça! pra lá de bandidagem. Nesse cenário é melhor jogar limpo com o cliente que não é possível entregar o produto no prazo do que entregar uma fraude.